Tive a oportunidade de estar nos bastidores do plenário da Câmara Federal por ocasião das quase 40 horas em que oposição, hoje PSDB, e situação, PT e partidos aliados à base do governo trocavam farpas na emblemática discussão da Medida Provisória (MP 595/12) que prevê a privatização dos Portos. Objetivo principal da medida é dar maior competitividade ao setor portuário. A presidente Dilma conseguiu mobilizar toda a classe política.
Não vou entrar no mérito da questão, porém, opino que esta privatização, apesar da maneira como está a redação da MP, eu discorde em vários pontos, principalmente da emenda aglutinativa nº 30 que se resume em renovar pelo mesmo prazo a concessão de empresas que já estão explorando portos em vários estados brasileiros – entendo que isso é chover no molhado.
Mas quero falar do que vi, ouvi e fotografei. Um bate boca entre o líder do PR Garotinho e o ruralista Ronaldo Caiado, que foi fundo nas suas palavras chegando a acusar Garotinho de líder de quadrilha. Garotinho também não poupou palavras, mas pelo que entendi ele debatia na linha das idéias. Soou mal quando ele ligou o nome do banqueiro Daniel Dantas aos partidos. Isto ficou atravessado.
Na madrugada de quinta-feira, Garotinho, serenamente se dirigiu a Caiado entregando ao presidente da mesa, procuração para quebra de seu sigilo bancário, como foi cutucado pelo seu opositor de que havia ficado rico, ele justificou, que foi prefeito de sua cidade duas vezes, governador, deputado federal e sua esposa já era governadora pela segunda vez, junto a isto entregou ainda sua declaração de imposto de renda.
Falando com firmeza, do outro lado Caiado engolia seco, e seu rosto ficava rubro. Garotinho exigiu pedido de desculpas.
Ao assumir o microfone Caiado com seu vozeirão, não soava tão alto não, preferiu um tom mais leve, meio que engasgado, depois de tantas explicações não pediu desculpas, mas se acertaram.
A madrugada caia, e o quórum também. De vez em quando um grito: “Encerra Presidente”. Até que vem a última palavra do presidente, que insistentemente pedia aos líderes para acordar os deputados que haviam deixado o plenário para que retornassem não esvaziando a casa. De 513 deputados, por volta das 3 da manhã, havia apenas 153, o quórum requeria pelo menos 270, muitos cochilavam em suas cadeiras sempre a mira dos fotógrafos que devem ter enchido a mídia social com imagens hilárias. Lembrando que eles já somavam mais de 30 horas trabalhadas.
A oposição aguarda eufórica pressionando o presidente com gritos de: ”Não tem quórum”; “Encerra presidente”. Irritado o federal de Americana, Vanderley Macris rasgou o Regimento Interno da Câmara, causando um novo frison entre os parlamentares.
Depois de repreensões e protestos tudo volta ao normal e a votação avança mais umas quatro horas de debates e embates.
“Se houve um vencedor, foi o debate, a controvérsia, a formação democrática, a lealdade da base do governo, a valentia da oposição e a responsabilidade de todos os parlamentares”, disse o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves. “A partir de hoje, o povo brasileiro, que assistiu a esse debate recorde na história do Parlamento, vai poder se orgulhar mais desta Casa.” Sera?
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